Hoje falaremos sobre a jovem Laura, que corajosamente prometeu sua vida para Deus em troca dos pecados de sua mãe...
Laura do
Carmo Vicuña, filha primogênita de José Domingos Vicuña e de Mercedes Pino,
nasceu em Santiago do Chile a 5 de abril de 1891, às 22:00 horas, na rua
Mapocho, nº 62, pouco distante do rio do mesmo nome. O batismo de Laura foi
retardado por causa de agitação e desordem reinantes na capital, quando da
guerra civil entre balmacedistas e revolucionários. Vindo ao mundo a 5 de
abril, domingo "in albis",
só foi levada à Paróquia de Sant'Ana a 24 de maio próximo, festa da Santíssima
Trindade. À nova filha da Igreja foi imposto o nome de Laura do Carmo, o que
prova o espírito cristão de seus pais. Figuram como padrinhos de Laura, no
batismo, um certo Venceslau Calderón e uma tal Rosária Rojas, dos quais apenas
se conserva o nome. A cerimônia foi efetuada pelo Pároco Pe. Bernardo Aranguiz
e nada teve de particular.
Os Vicuña,
família aristocrática chilena, foram obrigados ao exílio por causa da revolução.
Refugiaram-se em Temuco, numa casa pobre. Em 1893, em Temuco, nasceu Júlia
Amandina, trazendo um sopro de alegria à pobre casa de José Domingos de Vicuña
e Mercedes Pino. Poucos meses após o nascimento de Júlia, acometido por um mal
súbito, José Domingos fechava precocemente os olhos ao mundo, deixando esposa e
filhas no mais cruel abandono: "Laura,
a minha doce e inesquecível amiga de Colégio, disse-me haver sabido da mãe que
seu pai falecera com poucos dias de enfermidade, talvez pneumonia; que tinha
sido militar e que era muito bom!" (Depoimentos da irmã Mercedes
Vera), e a esposa Mercedes Pino descrevia assim o esposo: "Baixote de estatura, cabelos loiros, olhos
azuis e de porte nobre", a mesma acrescenta: "Laura era o retrato do pai".
A estada em
Temuco prolongou-se por seis anos, de 1893 a 1899, ou seja, da morte de José
Domingos Vicuña até a mudança de Mercedes Pino para Junin de Los Andes –
Argentina, quando Mercedes precisou refugiar-se com as duas filhas: "A minha querida filha nunca me deu desgosto
algum; desde pequena foi obediente e boazinha" (Mercedes Pino).
A partida das
Missionárias Salesianas para as bandas do Neuquén - Argentina, aumentou em
Mercedes Pino, o desejo de imitar-lhes o exemplo. Já de algum tempo andava ela
acariciando o sonho de tentar a sorte em outras paragens. Decidiu então emigrar
para além da Cordilheira; em linha reta, seriam aí umas centenas de
quilômetros: "Mercedes Pino
transferiu-se do Chile para a Argentina, para fugir à baixa condição a que se
vira reduzida; mas piorou a sua sorte" (Josefina Ferré).
A etapa
inicial de Mercedes Pino na Argentina foi Ñorquín, na extrema ponta
setentrional do Neuquén. Foi brevíssima a sua permanência nesse povoado, depois
desceu pelo vale do rio Agrio até Las Lajas, vilinha de umas poucas centenas de
habitantes. O Pe. Augusto Crestanello, diretor espiritual e confessor de Laura
escreve: "Seja em Ñorquín, seja em
Las Lajas, onde passou algum tempo, deixou Laura ótimas impressões nos que dela
se acercaram. Ela própria lembrava-se muitas vezes, com afeto, das amizades
contraídas naqueles lugarejos; e gostava de recordar as companheiras mais
virtuosas com que tratara".
Mercedes Pino
matriculou as filhas no Colégio de Maria Auxiliadora em Junin de Los Andes no
início de 1900, sendo diretora, Irmã Ângela Piai.
A 01 de
abril, segunda-feira santa, abriu-se o ano escolar de 1900. A crônica, reduzida
como a do ano anterior, assinala a presença de 14 alunas internas e 19
externas: 33 ao todo: "Meninas da
roça, pobrezinhas, humildes, de casca dura e deselegantes... que mais
facilmente empunham as rédeas do cavalo que a pena ou a agulha... selvagens
caipirinhas que é preciso domesticar" (Crônicas).
Em 1900, no
Colégio, Laura foi classificada entre as alunas de segunda ou terceira
elementar; Júlia, entre as pequeninas da primeira. Concluiu também com sucesso,
os anos de 1901 e 1902, sendo que neste mesmo ano, ela recebeu o sacramento da
Crisma, conferido por Dom Juan Cagliero, filho predileto de São João Bosco. Dom
Cagliero morreu em Roma em 1926, seu corpo descansa na catedral de Viedma -
Argentina. Pediu insistentemente para ser Filha de Maria Auxiliadora. Por causa
da situação da mãe, não foi aceita.
Já então
conhecia a Irmã Azócar as duas irmãs, e mostrava apreciar Laura pela boa
vontade que a animava e a tornava apontada entre as mais solícitas e caprichosas
no cumprimento dos múltiplos deveres da vida colegial, e também da vida
espiritual.
Laura
Vicuña amava ardorosamente a Jesus Sacramentado e Maria Santíssima, rezava com
fervor e se sacrificava pela conversão do próximo; era dócil e obediente às
Irmãs do Colégio, ao ponto de, por obediência, plantar um galho seco de
roseira, e a mesma brotou e permanece até hoje. Laura amava todas as
religiosas, mas tinha por modelo a Irmã Ana Maria a quem imitava nas virtudes.
Com o passar
do tempo, Laura descobriu que a sua mãe vivia em pecado, morando com o rude
fazendeiro Manuel Mora: "A primeira
vez que expliquei o sacramento do matrimônio, Laura desmaiou, certamente porque
pelas minhas palavras percebeu que a mãe vivia em estado de culpa..."
(Irmã Azócar).
Laura sentia
pavor em passar as férias na Estância Quilquihué (lugar dos falcões),
justamente porque devia enfrentar o monstro Manuel Mora que não a deixava em
paz, e tentou violentá-la por várias vezes.
Laura fez a
Primeira Comunhão no dia 02 de junho de 1901, na capela do colégio salesiano ou
na igrejinha paroquial de Junín. Vestida de branco, coroada de flores, com a
alegria a irradiar-lhe do rosto, Laura foi ao encontro do Amigo da alma. Seus
propósitos:
"Primeiro.
Ó meu Deus, quero amar-vos e servir-vos por toda a vida; por isso eu vos dou a
minha alma, o meu coração, todo o meu ser".
"Segundo.
Antes morrer que ofender-Vos com o pecado; por isso tenciono mortificar-me em
tudo o que me afasta de vós".
"Terceiro.
Proponho fazer tudo quanto puder para que vós sejais conhecido e amado e para
reparar as ofensas que recebeis todos os dias dos homens, especialmente das
pessoas de minha família".
"Meu
Deus, dai-me uma vida de amor, de mortificação, de sacrifício".
Vendo a mãe na companhia de Manuel Mora, Laura
resolve dar tudo: oferecer a vida pela conversão da mãe. Aumentou sua ascese e,
com o consentimento do confessor Pe. Augusto, abraçou, com voto, os conselhos
evangélicos. Já consumida pelos sacrifícios e pela doença, foi espancada por
Manuel Mora ao rejeitar mais uma vez suas pretensões.
A partir
desse momento, a saúde de Laura Vicuña começa a debilitar-se. O Retiro
Espiritual de 1903 foi o último acontecimento na vida colegial de Laura.
As meditações
sobre o fim do homem, a salvação da alma, a morte, a misericórdia, o paraíso,
rasgaram uma fresta para a eternidade e a prepararam para o grande passo.
No dia 22 de
janeiro de 1904, que devia ser o último dia da sua vida terrena, a "...pobrezinha, reduzida a pele e osso,
pôde receber a Santíssima Eucaristia como Viático" (Francisca
Mendoza).
À tarde do mesmo dia, Laura Vicuña chama a
mãe e lhe diz: "Mãe, há dois anos
ofereci minha vida a Deus em sacrifício para obter que não vivas mais em união
livre. Você deve separar-se deste homem e viver santamente. Antes de morrer
terei a alegria de seu arrependimento e seu pedido de perdão a Deus e que
comeces a viver santamente?". A mãe, entre lágrimas, lhe diz: "Sim, minha filha, amanhã cedo vou à igreja
com Amandina e me confesso".
Foi às 16 horas, sexta-feira, 22 de janeiro de 1904. O Pe.
Crestanello escreve que Laura morreu às 18:00 horas: "Eram seis da tarde, e Laura não existia mais"(Vida, p. 88-90).
Faltavam 2 meses e poucos dias para Laura completar 13 anos. Seu corpo repousa
na capela das Filhas de Maria Auxiliadora, em Bahía Blanca.
No centenário da
morte de Dom Bosco, Laura, que tinha dado a vida pela virtude mais cara ao
Mestre, foi beatificada por João Paulo II em Castelnuovo Don Bosco, na presença
de milhares de jovens, em 3 de setembro de 1988
blog do professor márcio de massaranduba - sc: profmarciofm.blogspot.com
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